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Socióligo Márcio Serafim é estudioso de cultura brasileira. Foto: arquivo pessoal |
Atualmente, o funk também tem causado polêmica. Assim como o rock, é alvo de críticas e preocupa sobre os efeitos que as letras, consideradas inapropriadas por falarem de sexo e por supostamente fazerem apologia ao crime, causando desconforto em parte da sociedade. Esse tipo de comportamento fez que com muito fosse questionado sobre o estilo, o tornando um objeto de estudos.
Muito se discute sobre a mensagem que o funk quer verdadeiramente passar e os limites sobre como a vida nas comunidades e o sexo são retratados nas músicas. O estilo se desenvolveu mais no Rio de Janeiro, sendo constantemente associado à região e falando em muitas músicas como é a vida nas comunidades cariocas, do ponto de vista de quem vive nas favelas.
O sociólogo Márcio Serafim fala sobre o preconceito que tanto o funk quanto o samba sofrem. De acordo com ele, os dois estilos sofrem discriminação em seu aparecimento, mas isso não impede que sejam fortes o suficiente para apresentarem um papel importante de reconstrução da identidade cultural.
Uma vez que o funk não tem uma época específica do ano para aparecer, como o samba para o Carnaval, a discriminação acontece constantemente. Muitas pessoas acham que o funk não é nada mais do que pura apologia ao tráfico, drogas e prostituição, não se preocupando em posicionar historicamente o estilo na sociedade.
Blog Funk In Rio: Podemos observar nos últimos anos a expansão do funk carioca em nível nacional, na sua percepção, o funk tem influência na sociedade atualmente? Que tipo de influência?
Serafim: O movimento funk no Brasil adquiriu uma expressão peculiar no Rio de Janeiro. Passou a ser uma nova forma de expressão da cultura popular urbana com ênfase nas favelas cariocas. Passou a dividir espaço no imaginário das favelas com o samba. Neste aspecto, parece interessante uma semelhança quanto à discriminação que ambos sofreram em seu aparecimento. Tanto o samba como o funk sofrem o estereótipo da favela e do racismo. Mas, isso não impede que ambos adquiram papel importante na reconstrução da identidade cultural da favela.
Blog Funk In Rio: Na sociedade atual é perceptível a liberação sexual, o empobrecimento cultural e a perda de valores éticos e morais. Neste momento que vivemos, é possível apontar essa difusão do funk erótico e de apologia ao crime como um dos culpados?
Serafim: A suposta crise ética e moral são resultados de um processo mais complexo, que nos remete a precarizações das condições materiais de existência para as classes populares, à corrupção em altos escalões políticos, na fragilização dos processos de socialização primária na família, no empobrecimento e sobrecarga da socialização secundária nas escolas, etc. Uma sociedade desesperançada e sem rumo, pautada em prazeres efêmeros e fáceis como forma de alívio individual e imediato. Este seria nosso quadro social mais pessimista. O Funk, como qualquer outra forma de expressão cultural, retrata essa realidade pervertida. Ele o faz de forma direta e clara. Isso causa repulsa àqueles que superficialmente o julgam. Ele não é o responsável pela degradação, mas pode refleti-la de modo chocante. Mas, vale lembrar que o Funk também produz crítica e diversão como forma de visibilizar as angústias sociais que atingem as parcelas menos favorecidas da população.
Blog Funk In Rio: O funk pode ser denominado um movimento cultural que faz a ligação entre o morro e o asfalto?
Serafim: Sem dúvida, o movimento funk é expressão da nova cultura popular urbana. Entretanto, também pode ser absorvido pela indústria cultural, que pode utilizar o seu viés mais erótico e acrítico como produto de consumo alienante.
Blog Funk In Rio: Na sua percepção, o que pode destacar como positivo e um ponto negativo na relação funk e sociedade?
Serafim: Não gosto muito de interpretar manifestações culturais e sociais nestes termos manequeístas ocidentais. Normalmente nos conduz a interpretações simplistas de questões complexas. Mas, parece-me que, assim como todo processo socio-cultural, o funk merece ser melhor compreendido e debatido em espaços públicos. É importante que se dê visibilidade e voz para os atores sociais que constroem esse processo. Devíamos ouvir mais quem faz e vive o funk, e talvez falar menos. Assim, poderíamos combater o etnocentrismo que nos cega e torna surdos.
Serafim: O movimento funk no Brasil adquiriu uma expressão peculiar no Rio de Janeiro. Passou a ser uma nova forma de expressão da cultura popular urbana com ênfase nas favelas cariocas. Passou a dividir espaço no imaginário das favelas com o samba. Neste aspecto, parece interessante uma semelhança quanto à discriminação que ambos sofreram em seu aparecimento. Tanto o samba como o funk sofrem o estereótipo da favela e do racismo. Mas, isso não impede que ambos adquiram papel importante na reconstrução da identidade cultural da favela.
Blog Funk In Rio: Na sociedade atual é perceptível a liberação sexual, o empobrecimento cultural e a perda de valores éticos e morais. Neste momento que vivemos, é possível apontar essa difusão do funk erótico e de apologia ao crime como um dos culpados?
Serafim: A suposta crise ética e moral são resultados de um processo mais complexo, que nos remete a precarizações das condições materiais de existência para as classes populares, à corrupção em altos escalões políticos, na fragilização dos processos de socialização primária na família, no empobrecimento e sobrecarga da socialização secundária nas escolas, etc. Uma sociedade desesperançada e sem rumo, pautada em prazeres efêmeros e fáceis como forma de alívio individual e imediato. Este seria nosso quadro social mais pessimista. O Funk, como qualquer outra forma de expressão cultural, retrata essa realidade pervertida. Ele o faz de forma direta e clara. Isso causa repulsa àqueles que superficialmente o julgam. Ele não é o responsável pela degradação, mas pode refleti-la de modo chocante. Mas, vale lembrar que o Funk também produz crítica e diversão como forma de visibilizar as angústias sociais que atingem as parcelas menos favorecidas da população.
Blog Funk In Rio: O funk pode ser denominado um movimento cultural que faz a ligação entre o morro e o asfalto?
Serafim: Sem dúvida, o movimento funk é expressão da nova cultura popular urbana. Entretanto, também pode ser absorvido pela indústria cultural, que pode utilizar o seu viés mais erótico e acrítico como produto de consumo alienante.
Blog Funk In Rio: Na sua percepção, o que pode destacar como positivo e um ponto negativo na relação funk e sociedade?
Serafim: Não gosto muito de interpretar manifestações culturais e sociais nestes termos manequeístas ocidentais. Normalmente nos conduz a interpretações simplistas de questões complexas. Mas, parece-me que, assim como todo processo socio-cultural, o funk merece ser melhor compreendido e debatido em espaços públicos. É importante que se dê visibilidade e voz para os atores sociais que constroem esse processo. Devíamos ouvir mais quem faz e vive o funk, e talvez falar menos. Assim, poderíamos combater o etnocentrismo que nos cega e torna surdos.