quarta-feira, 30 de novembro de 2011

As batidas do funk nas favelas e comunidades

Tiago de Andrade
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Há quem afirme que o Funk é mais do que música, que o considere um movimento cultural único, pois é capaz de fazer a ligação entre a favela e o asfalto. A idéia dessa ponte entre as diferentes classes sociais é fácil de perceber nos bailes de funk que acontecem nas comunidades.

Moradores encaram o funk como movimento de
representação das comunidades. Foto: Agência O Globo
O grande alvo de críticas e polêmicas da sociedade que mora no “asfalto” na realização destes bailes, além do livre comércio de bebidas alcoólicas e drogas e a exposição de armas de fogo, são as letras dos funks que incitam ao crime, ao uso de entorpecentes e o forte apelo sexual. Para o morador da comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, Alderson Mesquita, “o Funk é o retrato do que acontece ali, no ambiente em que se vive, na esquina de onde reside e o conteúdo das letras fazem referência a esta realidade, pois são elaboradas em razão de ser a referência de um povo que é esquecido pelo poder público e fica a mercê de um poder paralelo”.

Nas comunidades o Funk é visto como ritmo, cultura local, entretenimento e até oportunidade de trabalho, pois os moradores possuem diversos amigos que começaram se apresentando nos bailes locais e atualmente, com a explosão do ritmo pela cidade, são Mcs conhecidos que se sustentam com o dinheiro que recebem através das suas performances nas casas noturnas espalhadas pelo Rio de Janeiro. Para Alderson, a força de atração do funk está nas batidas, nas danças, no ambiente de sensualidade que estimula à paquera, na forte presença do público feminino, enfim na diversão.

Com a adesão do público de maior poder aquisitivo, o funk passou a ser considerado um movimento das multidões, deixando de ser apenas música de preto e favelado na opinião do funkeiro Alderson:

- O que mais tem em bailes de comunidade são adolescentes de classe média e alta. A maioria critica mais em qualquer festa quando toca, todos dançam.

Os bailes de comunidades estão em processo de extinção, pois uma das ações realizadas pelas UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora é a proibição de bailes funk nos morros. O assunto é motivo de reclamação dos moradores da comunidade que como Alderson, questionam o porquê da proibição e a restrição ao funk:

- O baile funk aqui na comunidade é uma opção de lazer e também uma forma de diversão barata para as pessoas que não tem condições de freqüentar as casas noturnas. Porque as rodas de samba ou outros eventos não são proibidos? Porque o problema com o funk?

Em resumo, o cenário que se visualiza é de que o Funk representa muito mais que um ritmo musical para a população carente da sociedade, é a apresentação da cultura, a arte da comunidade, a possibilidade de ser reconhecido através das suas composições, e a forma de se integrar a sociedade.

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